#42 Agora, a deusa
e o processo doloroso de amadurecimento
Ando pensando muito sobre em que momento de fato nos tornamos adultos. Há muitas diferentes perspectivas sobre e aqui não é um artigo e nem um estudo científico, é uma abertura de coração.
Tendo dito isto, ando pensando que se tornar adulto não acontece no momento que dizem que acontece, mas sim quando percebemos que temos mais portas fechadas para nós do que abertas; quando a vida não é mais um fluxo onde tudo vem na sua direção, mas onde tudo foge das suas mãos; quando temos que fazer muito mais esforço para as coisas do que antes; quando as coisas doem mais do que costumavam e quando a vida parece mais te soterrar do que servir como uma montanha onde você vitoriosamente chega ao pico com todos torcendo para você.
Ser adulto, é já não ter tantos expectadores para as suas glórias, mas muitas companheiras dos seus fracassos, desesperos, desafios, frustrações e lamentações.
Ser adulto, é olhar e ver quão pouco foram aqueles que ficaram, àqueles que aguentaram todos os processos difíceis que você passou, aguentando tudo junto contigo e te ajudando da forma que dava.
Ser adulto, é sentir as poucas mãos que seguem segurando a sua.
Ser adulto, é perceber que as pessoas já não te suportam mais como antes, aliás, na maioria das vezes, nem você se suporta.
Descobrimos dores novas.
Descobrimos traumas novos.
Descobrimos desesperos novos.
Descobrimos que a vida não é tudo aquilo que nos prometeram e muito menos àquilo que imaginávamos para nós antes.
Ser adulto, é ver alguns dos nossos sonhos morrer.
É estar sozinho com seu lado B e todos os demais, sim, tem mais, muito mais.
Ser adulta é ser raptada por Hades e percebermos, que “somente nas vísceras, na morte e no revolver das nossas raízes, que é possível maturar a ponto de se tornar uma rainha do submundo”, como bem diz Obsidiyana, em O Caminho de Perséfone.
E você pode pensar que eu estou sendo muito pessimista e só vendo o lado ruim da maturidade, mas eu não acho não (minha lua em capricórnio acha bem okay?!), eu estou vendo atrás dos olhos do mito de Deméter e Perséfone.
Da dureza que é ser rainha do submundo, e isso, só vamos aprender de ver, quando nos percebermos adultos. Quando abandonamos a Coré e vamos em direção à Perséfone. Quando olhamos nos olhos de Hades e não podemos mais evitar que a transformação acontece.
Não podemos conter que o Inverno venha.
Assim, como não podemos conter a maturação da semente.
Para nós mulheres, as coisas são um pouco mais viscerais ainda, porque não o simples falto de adultecer, a ele ainda está atrelado à entrada na menopausa.
Perimenopausar é também caminhar do verão e minguar até o declínio total.
Conosco, neste caminho revirar as entranhas e também nos revirar do avesso, até não nos reconhecermos mais, nem em nossos comportamentos e nem em nosso corpo, é que vamos experimentar de verdade, não somente quem é Perséfone, mas quem é Hécate em nós e em nossas vidas.
Elas são deusas que estão conosco em transições.
Quando mudamos de estado passando pela alquimia de nossas vidas, alquimia de nossas almas.
Elas são as deusas que seguem conosco, que nos atravessam, que prenunciam algo novo porvir.
Àquela de nós que ainda desconhecemos.
A nova etapa de nossas vidas.
TAKE TWO.
É assustador tornar-se adulto, mas também, é incrível.
Perséfone nos ensina que há beleza e um profundo amor em tudo que eu falei, por mais duro que possa parecer e por mais pessimista que possa parecer.
Para chegar em Perséfone, é preciso pisar no óculos cor-de-rosa da Coré, é preciso “matar” a boa menina, é preciso mudar de estado, mesmo quando não queremos.
Resistir faz doer mais.
É natural querer continuar sendo como éramos antes.
Nos desconfigurar vendo que o corpo já não responde como antes.
Acompanhar a morte das personalidades, máscaras e mulheres que você conhecia, para que uma nova possa nascer.
Perséfone e Hécate sempre nos convidam para adentrar o Mistério.
Aprendi que na vida sempre vai ter um mistério que desconhecemos. Logo depois que revelamos um mistério, já surge um novo e um novo e um novo. É um processo sem fim, até chegar o momento do nosso último mistério que é a travessia da morte, onde Perséfone e Hades nos recebem em seu reino.
Porém, até chegar lá, temos que descer muitas camas para baixo. E nossa cultura patriarcal centrada na transcendência, foi constituída em subir. Estão sempre querendo subir, enquanto, a da deusa, nos ensina, que precisamos primeiro descer.
Uma árvore sem raízes, não alcança os céus. Como já dizia Jung: Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos.
E esse inferno, não é nada parecido com o inferno cristão, aqui, estamos falando, que as raízes precisam ser tão profundas a ponto de tocar o submundo. Só então, iremos de fato ascender aos céus, sem nunca deixar o submundo.
As deusas são realmente portais iniciáticos que nos acompanham o tempo todo em nossas vidas desde quando estivemos nos ventres de nossas mãos (na verdade antes) e estão conosco até o último suspiro (e na verdade depois). Quando aprendemos a interpretar e conhecer suas formas de manifestação, suas potências e sua simbologia, que são o idioma mulheril, conseguimos passar pelos processos decodificando o livro sagrado da vida.
Livro que vamos escrevendo junto com elas.
Um teste de fé e acima de tudo, nossa prática diária que elas apresentam para nós, como um ato amoroso que elas dedicam à nós.
Viver uma vida com a deusa é um caminho sem volta.
São novas lentes.
São diferentes escolhas.
Uma forma completamente diferente de viver.
Não é fácil, mas é de uma beleza sem fim, na dor e no amor.
E como você sente que está sendo adultecer para você?
Se você quiser experimentar a deusa para além do intelecto no seu ventre e coração, estamos com um Apoia.se bem bacana, onde nossas apoiadoras irão receber uma ‘Carta da Deusa’ (com uma mensagem inspirada, canalizada), uma meditação de conexão com a deusa do mês (que irá se apresentar na ‘Carta’), e um plus, que é um jogo oracular através dos oráculos da deusa, para guiança e orientação para o mês. Está bem bacana e a ideia, é que mais e mais mulheres tenham a EXPERIÊNCIA da Deusa e participem dessa construção de uma espiritualidade mulheril.




Lindo e verdadeiro, Aninha querida. A época em que adulteci foi bem clara para mim. E surpreendente. Achei que já era adulta e me descobri em processo. Vamos juntas.❤️
Quando a gente lê algo que faz todo sentido... ❤️